Tempos Interessantes

Fátima bocejou mais uma vez a ouvir o professor de geometria. Aquele rapaz sentado mais lá à frente tinha estado ontem no churrasco de Arquitectura. Chamava-se Aarão, e, segundo a Rita, andava em Escultura, 2º ano. Eram mais ou menos 3 da manhã quando a Rita lhe tinha dito isto; o churrasco de arquitectura estava no auge, já tinham as duas bebido uma vodka a mais, e, se a Fátima estava a ficar com sono, a Rita estava muito desperta e com um brilho nos olhos.
- É pena estar aqui pouca gente da faculdade, mas aquele rapaz ali é de escultura - disse, apontando para o Aarão.
- Oh Rita, acho que me vou sentar um bocado, estou meia tonta.
Mal se sentaram Fátima começou a olhar fixamente para o vazio e Rita levantou-se, dizendo que voltava já. Fátima pensou que aquele "já" não soava muito a verdadeiro e quando viu a Rita a conversar com o Aarão, e depois com um outro rapaz, que parecia ser amigo dele, pensou que talvez fosse apanhar uma seca. Perdeu a Rita de vista e só quando o churrasco estava a esvaziar e uma rapariga italiana insistia em meter conversa com ela, embora Fátima não percebesse uma palavra, é que viu a Rita outra vez. Despedia-se do amigo do Aarão com uma série de beijos e aproximou-se de Fátima com um ar de satisfação.
- Vamos embora?
Fátima só conseguiu dizer que sim com a cabeça, e depois de uma viagem atribulada no Fiat Seicento da Rita, afundou-se num sono profundo na sua cama, que naquele momento lhe pareceu o paraíso.